A jornalista que tornou o escritor "mais acessível"
Em 1986, uma jornalista espanhola entrou numa livraria de Sevilha e viu um livro cujo título lhe chamou a atenção: Memorial do Convento. Pilar del Río tudo ignorava do autor. Comprou-o, foi para casa e devorou-o. Entusiasmada, voltou à livraria e levou tudo o que encontrou de Saramago. O Ano da Morte de Ricardo Reis produziu-lhe tal emoção que, pouco depois, Pilar desembarcava em Lisboa para entrevistar aquele escritor português de que até há poucos meses nunca tinha ouvido falar. Das consequências desse encontro falaram mais tarde, em variadas ocasiões, tanto Saramago como Pilar. Para a história fica que, após idas e vindas entre Lisboa e Sevilha, casaram em 1988. Fica ainda mais: uma bela declaração de amor do escritor português: "Se tivesse morrido aos 63 anos, antes de a conhecer, morreria muito mais velho do que o serei quando chegar a minha hora."
Pilar foi a terceira mulher na vida de Saramago. Este casou, em 1947, com Ilda Reis (mãe da sua filha, Violante), de quem se divorciou em 1970. Viveu depois com a escritora Isabel da Nóbrega, que conheceu na Estúdios Cor e com quem trabalhou em A Capital. Em 1986, surge Pilar del Río na sua vida. Com ela foi viver para Lanzarote em 1993, quando um subsecretário de Estado, Sousa Lara (num Governo chefiado por Cavaco Silva) afastou Evangelho Segundo Jesus Cristo da lista de concorrentes a um prémio europeu. Com ela (que o tornou "mais acessível, mais aberto, capaz de derramar os sentimentos e de abandonar a sua habitual atitude de de- fesa", como confirmou a filha, Violante) ficou até ao fim.